sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Aqui

"Aqui, deposta enfim a minha imagem,
Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem,
No interior das coisas canto nua.

Aqui livre sou eu - eco da lua
E dos jardins, os gestos recebidos
E o tumulto dos gestos pressentidos,
Aqui sou eu em tudo quanto amei.

Não por aquilo que ~só atravessei,
Não p'lo meu amor que só perdi,
Não p'los incertos actos que vivi,

Mas por tudo de quanto ressoei
E em cujo amor de amor me eternizei."

Sophia de Mello Breyner Andresen/Dia do Mar


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Um chá



A bela luisa floresceu mas as suas folhas oferecem-me, ao fim do dia, um chá refrescado com uma rodela de limão.


Para que possa continuar a beneficiar do seu verde, terei que podá-la brevemente mas, entretanto, guardarei e secarei as suas folhas para futuras delicias.


Depois, irá novamente cobrir-se de verde e assim seguirá o seu ciclo.




quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Ao fim do dia




O extenso areal percorri na hora mágica do entardecer.

No silencio desses momentos, mergulhei os meus pés nas frias águas do oceano e o olhar nas cores quentes do solpôr.
Senti que as algas me vestiam de verdes esperanças e com os meus braços rodeei rochedos alapados de sonhos.
Sereias encantadas brincavam com os grãos de areia formando colares para cobrirem os seios desnudos.
As ninfas teciam longos véus com a espuma da maré e ao longe, a orquestra do mar executava estrondosos acordes que entonteciam os habitantes das grutas.
Os peixes, numa agitação frenética, escondiam-se e só as anémonas se aventuravam numa dança sem ritmo nem marcação.

Os deuses reuniam-se no cabo e eu percorria o areal deserto, ali tão perto.