É uma porta velha, com um estilo fora desta época, démodée, carcomida
pelo tempo. Os buracos dos bichos que abriram crateras e corredores no seu
corpo estão tapados com várias camadas de tinta de cor indefinida que se foram
sobrepondo. Lembra os palhaços que se mascaram para entrar em palco tapando as
rugas da tristeza com as cores vivas da grossa maquilhagem. Foi bonita na sua
juventude com uns olhos grandes rendilhados.
Hoje, olhamo-la com tristeza. Puseram-lhe corrente e cadeado,
única maneira de continuar a guardar a sua casa onde se viveram alegrias e
tristezas, onde se nasceu e morreu, risos de crianças se fizeram ouvir, choros
e dores se sentiram. Houve um tempo de vivência que a casa guarda a sete chaves
protegida pela porta acorrentada. Quem conhece exactamente todos os mistérios
ali guardados? Quais os tesouros escondidos que só as suas paredes sabem?
A porta acorrentada, decrépita, impede a passagem para um
mundo de fantasmas que guarda como uma caixa de pandora e cujos segredos nunca
serão revelados porque as paredes têm ouvidos mas não falam.
foto e texto de Benó