terça-feira, 26 de abril de 2016

Uma folha



A folha desejava estar liberta para dançar ao sabor do vento.


Soltou-se dos braços de sua mãe e rodopiou como uma bailarina em pontas.


Subiu, tornou a girar e sentiu os raios de sol na sua pele.

 


Cansada de tanto rodopio tomba, por fim, feliz por ter alcançado o sonho de dançar ao vento. 
Ressequida, ali fica no chão junto de outras irmãs sem vida, inerte.
Em breve será pó.


fotos e texto de Benó

terça-feira, 12 de abril de 2016

Gente comum

                                               Henri Matisse/net
 

São pessoas comuns, homens e mulheres com quem nos cruzamos diariamente, que conhecemos por frequentarmos os mesmos locais: o café, a pizaria, a loja, o mercado e a quem sorrimos num cumprimento casual. Cada um alberga dentro de si alegrias e tristezas, segredos, intimidades que na sua aparência, dita normal, não deixa transparecer nem no rosto nem nas conversas leves e rápidas que ocasionalmente se possam trocar.
Casamentos desfeitos, doenças incuráveis, dependência de drogas, tudo isto é camuflado com sorrisos de indiferença nos cumprimentos habituais de “Olá como está?”
Nas conversas mantidas à mesa do café cochicha-se o escândalo e uma palavra aqui, outra palavra ali em tom mais elevado é dado a conhecer a razão do burburinho. Trata-se de mais um caso já frequente na sociedade atual. Já nada nos espanta nesta nossa vivência mas não deixei de sentir um profundo calafrio ao confirmar o que me parecia dúbio e, ao mesmo tempo, pensar que o que nos parece sólido pode esboroar-se como um castelo de cartas ao leve sopro, e, como as relações humanas podem ser difíceis e fantasiosas.
Como atrás de um sorriso se podem esconder mil pesares. Como a calma dum olhar ilude a tempestade dum pensamento.

Como desconhecemos quem conhecemos.


                                                                                 

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Inconstante e Caprichosa

                                                                                                                Luisa Delartesa
 

A prima Vera irritante e mimada, visitou o Jardim.
Sorridente ou chorosa ei-la a bailar com as folhas que giram no ar.

Num momento sorri, envia convite para a praia, serve gelados, caipirinhas, abre os braços ao sol, desnuda-se, atira sonoras gargalhadas que se perdem nos bicos dos pardais na busca de sementes, dá cor às rosas, amarelo aos malmequeres, ajuda as espigas a se tornarem trigo.
Inconstante. Caprichosa, ventosa muda o seu estar num instante.
Dum tempo para outro tempo sem contagem de horas, altera o seu humor. Chama as nuvens que numa  obediência real acodem ao chamamento e, cumprindo ordens, tornam o dia luminoso e primaveril num dia escuro, invernoso rasgando-se barulhentas sobre a terra já florida.

Pendem os malmequeres. As papoilas desnudam-se. As amendoeiras sorriem.
É assim a inconstante e caprichosa prima Vera que uns adoram e outros nem por isso.

foto da net
texto de Benó